Ontem, 27 de novembro, postamos um breve resumo de nossas ações e de nossas intenções em uma importante lista de professores de espanhol do país, a ELE do Brasil. Esta lista é composta por muita gente preocupada com os rumos da educação e com o processo de implantação do ensino do idioma em nosso país.
Abaixo, a transcrição de nossa mensagem para a lista.
"Espanhol no RS: Outras Vozes
Como é de conhecimento geral, em agosto de 2009 o MEC firmou um acordo com o Instituto Cervantes com o objetivo de que este forneça tecnologias e metodologias para a formação de professores, a fim de suprir a enorme demanda de profissionais decorrente da entrada em vigor da chamada Lei do Espanhol que se implantará, definitivamente, em 2010. Em oposição a este acordo, várias entidades representativas de professores de espanhol do Brasil se manifestaram por escrito ao Ministério, manifestações estas que foram apoiadas por uma ação política intensa da Comissão de Acompanhamento de Implantação do Ensino de Espanhol na Educação Básica (COPESBRA), que, como se sabe, é composta por professores representantes das associações de vários estados e professores universitários contrários a intervenções de entidades estrangeiras, como o Instituto Cervantes, as quais, pela legislação brasileira, não podem ser reconhecidas, jurídica e institucionalmente, para atuar na formação docente de nível superior.
Na esteira destas importantes ações surgidas em todo o país repudiando o acordo, que visivelmente menospreza o intenso trabalho de pesquisa e de formação realizado pelas universidades nacionais, e ao perceber que nenhuma entidade gaúcha ergueu a voz de maneira contundente para expressar o desagrado e a estupefação dos professores de espanhol do Rio Grande do Sul, um grupo de professores de três importantes universidades públicas federais de nosso estado se uniu para formular um documento que expressasse nosso pesar e nossa inconformidade diante de tão degradante pacto. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a partir de um intenso labor voluntário de alguns de seus professores, elaboraram um documento que contou com o referendo de cerca de 50 professores do estado e que foi encaminhado ao MEC, em apoio às manifestações das associações nacionais.
Em seguida, entendemos por bem levar a discussão a outras instâncias, debatendo o tema com nossos pares das redes pública e privada de ensino do estado, bem como com nossos alunos da graduação, que, estamos convictos, estão com seus futuros empregos ameaçados e com sua formação comprometida e descaracterizada, devido à padronização cultural e linguística que evidentemente resultarão da utilização massiva dos materiais elaborados pelo Instituto Cervantes, disponibilizados inclusive pelo portal do professor na página do MEC. Não há dúvidas de que este é um fator desmotivador para nossos alunos universitários, que, como futuros profissionais, estão fadados a tragar um produto pasteurizado e acabado, ficando tolhidos em sua iniciativa e criatividade.
Este debate amplo e extremamente produtivo teve início na Unipampa, em Bagé, em 24 de outubro, e contou com a presença de cerca de 100 participantes. Na Etapa Pelotas, aos 29 dias do mesmo mês, foram 115 os presentes. Em ambos os momentos, palestras, mesas redondas, a intensa participação do público e um forte apoio institucional por parte das universidades e das secretarias de educação locais demonstraram o descontentamento geral com o rumo dos fatos e a necessidade urgente de que iniciativas concretas surjam em nosso estado, defendendo os interesses dos atuais e futuros professores de língua espanhola e propondo instrumentos de capacitação e de aperfeiçoamento dos profissionais da educação.
Dando ouvidos ao apelo geral, os professores envolvidos, desde então, têm discutido e planejado estratégias com a expectativa de reverter o lastimável quadro que se apresenta. Entre suas iniciativas, encontram-se desde a constituição de uma entidade representativa, que efetivamente defenda os interesses dos professores de espanhol no estado, até a elaboração de projetos de formação continuada para capacitar o corpo docente em atuação na rede pública de ensino. Tais iniciativas sustentam-se no entendimento de que a Universidade não só tem o dever de agir na defesa dos interesses dos profissionais em formação ou formados, mas de garantir o aprimoramento dos conhecimentos e das habilidades dos docentes em atuação na área de espanhol.
Os debates citados terão prosseguimento com a Etapa Jaguarão, que ocorrerá no dia 2 de dezembro próximo, quarta-feira, e com a Etapa Santa Maria, apenas dois dias depois, em 4 de dezembro, sexta-feira. Após todos estes debates, pretende-se estabelecer um Grupo de Trabalho no sábado, dia 5, que elaborará os documentos finais resultantes de todas as questões levantadas e dará os primeiros passos para a concretização dos projetos aqui comentados.
É importante mencionar, ainda, que muito embora todo o trabalho tenha sido iniciado e esteja sendo desenvolvido por professores das três universidades elencadas, estamos mantendo contato com docentes de outras instituições de ensino superior que já estão se engajando de maneira prática e contundente a este esforço conjunto, uma vez que nosso objetivo é que esta iniciativa não seja monopólio de uns poucos, mas trabalho colaborativo de muitos, uma ação amplamente representativa dos profissionais atuantes no ensino de espanhol. Estamos convencidos de que é na união de forças e na capacidade de compartilhar que reside nosso trunfo diante dos desmandos dos poderes centralizadores.
Por fim, queremos deixar claro que enviamos este informe à ELE do Brasil porque temos o maior interesse em fazer públicas nossas iniciativas e especialmente porque nos identificamos com seus objetivos e com a seriedade de seus participantes nas discussões que aqui vêm ocorrendo. Também queremos reiterar que, muito mais que estabelecer um movimento político, pretendemos, com a nossa iniciativa, fazer o que sabemos, ou seja, lutar pela capacitação dos professores e oferecer aos nossos alunos um futuro profissional pelo qual vale a pena lutar. Não desejamos ocultar-nos ou esquivar-nos de nossas responsabilidades, muito embora saibamos que haverá quem não concorde com nossos pontos de vista, mesmo aqui em nosso estado. O fato, porém, é que nos cansamos de assistir, calados, à inação reinante por aqui.
Esperamos poder contar com o apoio ou mesmo com a crítica construtiva de todos aqueles que participam desta lista e que queiram, de uma forma ou de outra, contribuir com o debate.
Cordiais saudações.
Profa. Aline Coelho da Silva – UFPel
Profa. Cristina Pureza Duarte Boéssio – Unipampa Jaguarão
Profa. Eliana Sturza – UFSM
Prof. Elton Vergara Nunes – UFPel
Prof. Marcus Vinícius Liessem Fontana – UFSM
Profa. Valesca Brasil Irala – Unipampa Bagé
Profa. Vanessa Ribas Fialho – UFSM"
Oi, li a publicação de vocês e estou em comformidade com oque escreveram. Até cncordo com um apoio do Instituto Cervantes pra ajudar no desenvolvimento da formação de um docente, mas daí a formar uma parceria entre ele e o governo para "restringir" essa formação é desvalorizar o trabalho e a capacidade nacional de formar e pensar que "o que vem de fora" é melhor, é mais capacitado. Penso que o governo devia valorizar mais, muito mais, o poder do intelecto e da capacidade de desenvolvimento do brasileiro do que dar valor ao que vem de fora, do que é estranjeiro. Pode sim ser uma ferramenta importante, mas não é aúnifcda. O conhecimento não é é unitário, ele só ocorre pois é uma teia interliagada que conecta saberes para formar um complexo de idéias.
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