NOTA DE REPÚDIO À MEDIDA PROVISÓRIA 746 – REVOGAÇÃO DA LEI 11.
161 DE OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DE ESPANHOL
A área de Espanhol e demais profissionais do Curso de Letras – Línguas
Adicionais do campus Bagé da UNIPAMPA, em conjunto com sua
Coordenação, Coordenação Acadêmica e a Direção do Campus, vem a
público manifestar repúdio em relação à publicação da Medida Provisória
nº 746 do governo federal, publicada em edição extra do Diário Oficial da
União, no dia 23 de setembro, a qual institui a política de fomento à
implementação da Educação Integral. No seu artigo 13, determina-se a
revogação da lei 11. 161 de 2005, que instituía até então a
obrigatoriedade do ensino de Espanhol no Brasil. A oferta facultativa de
Espanhol no Ensino Fundamental e obrigatória no Ensino Médio – dentro
da Educação Básica – foi produto de longas discussões e de tramitação no
Congresso Nacional, tendo sido promulgada no dia 12 de junho de 2005,
com vistas à implementação definitiva nas escolas brasileiras até o ano de
2010. Durante o processo de implementação, todas as universidades
federais gaúchas criaram e/ou ampliaram o número de vagas para
formação docente na área do Espanhol. Assim, temos atualmente a oferta
de licenciaturas com vistas à formação em Língua Espanhola e respectivas
literaturas na UFRGS, FURG, UFPEL, UFSM, UFFS e na UNIPAMPA. As
implicações de as universidades colocarem mais novos docentes da área
do Espanhol no mercado de trabalho foram também, além de suprir uma
nova demanda pública, aportar professores especializados a outros
contextos de ensino, como por exemplo os de natureza privada. Nesse
sentido, contemplando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a
Língua Espanhola foi instituída buscando atender às necessidades e
características culturais das comunidades escolares – particularmente as
comunidades fronteiriças das quais a UNIPAMPA faz parte. Merece
menção especial o fato de a UNIPAMPA ter sido criada para fomentar o
desenvolvimento das mencionadas regiões.
O Brasil, historicamente, considera-se um país monolíngue, evadindo-se
da importância de gerir políticas linguísticas – levando-se em conta,
inclusive, questões econômicas, geográficas, históricas e de política
internacional. A oferta da Língua Espanhola na Educação Básica permite uma base linguística e intercultural importante e necessária para a
formação de um cidadão sensível a outras culturas e melhor preparado
para os mercados de trabalho que se abrem com a globalização crescente.
É essencial referir que este aluno ingressará na universidade com uma
biografia linguística e intercultural que lhe permitirá apropriar-se de
outras línguas com maior facilidade e, inclusive, circular em outras áreas
do conhecimento que não lhe teriam sido facilitadas caso não tivesse
competência linguística para tanto. A negação dessa possibilidade poderá
ter consequências graves, inclusive no acesso e na expansão da ciência e
tecnologia no Brasil. A atitude arbitrária tomada pelo governo federal na
MP 746, depõe contra a política do MEC que busca a internacionalização
das universidades. Instituições estas que há muito têm se organizado
nesse sentido, por meio de acordos e convênios com diversas
universidades da América Latina e de outros continentes, objetivando
ampliar a formação dos discentes e futuros profissionais e incentivar a
complementação da formação continuada dos docentes, imprescindível
para a busca da qualidade que o próprio governo federal espera de suas
tuteladas.
Esta Medida Provisória é um retrocesso na educação brasileira e terá
impacto sobre as universidades e sociedade muito além dos cursos de
Licenciatura em Espanhol. O trabalho de anos, a construção linguística
que extrapola a língua espanhola, as questões referentes ao respeito à
interculturalidade (que deveriam prevalecer em um país miscigenado e de
enormes taxas de imigração como o nosso) serão jogados a um precipício,
como se a questão não interessasse a um governo que não quer que o
cidadão em formação tenha acesso a amplas possibilidades sociais,
econômicas, culturais. Nesse sentido, é assustador observar que o atual
governo siga à contramão de outros países, que estão preocupados em
incluir a língua espanhola em suas bases curriculares, buscando firmar
acordos político/econômicos com os países hispanofalantes da América
Latina e Europa.
Professores do Curso de Línguas Adicionais – Inglês, Espanhol e
Respectivas Literaturas da Unipampa campus Bagé, Coordenação Acadêmica e Direção do Campus Bagé. (O texto passou pelo Conselho do
campus Bagé da Unipampa no dia 30/09/2016).
Professores do Curso de Letras Português/Espanhol e Respectivas
Literaturas- Campus Jaguarão (Assinaram em 5 de outubro de 2016).
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